Transplante de medula se consolida como tratamento para esclerose múltipla

Procedimento é indicado a quem não tem melhora com tratamentos farmacológicos; doença autoimune e neurodegenerativa atinge ao menos 40 mil brasileiros

Estudado como opção terapêutica para doenças autoimunes há mais de 20 anos, o transplante de medula óssea se consolidou como uma alternativa segura e eficaz para pacientes diagnosticados com esclerose múltipla – uma doença autoimune, neurodegenerativa, inflamatória e crônica, em que o sistema imunológico destrói a bainha de mielina (capa) protetora dos nervos, podendo levar à paralisia e até a morte.

No dia 30 do mês de maio é comemorado o Dia Mundial da Esclerose Múltipla, com o objetivo de conscientizar a população sobre a doença. Mais de 2 milhões de pessoas no mundo vivem com esclerose múltipla, sendo que ao menos 40 mil estão no Brasil, segundo estimativas da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla.

A doença costuma se manifestar na idade adulta jovem e pode causar incapacidades neurológicas graves, com repercussão social e econômica para o doente.

O tratamento é feito com medicamentos de alto custo que atuam com o objetivo de aumentar o espaço entre os surtos, mas sem eliminar a doença.

O problema é que cerca de 10% a 15% dos pacientes são refratários, ou seja, não respondem bem aos tratamentos farmacológicos existentes, e sua condição de saúde só piora ano a ano.

É exatamente para esses casos que o transplante de medula está indicado e consolidado.

Existem dados de remissão total da doença a longo prazo, de cinco a dez anos sem uso de qualquer medicação. Mas ainda assim não podemos falar em cura”, afirmou o hematologista Nelson Hamerschlak, coordenador da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital Israelita Albert Einstein e um dos principais estudiosos do tema.

O registro europeu de transplante de medula óssea, por exemplo, publicou um relatório em que apontou que a esclerose múltipla foi o diagnóstico de metade dos pacientes transplantados por causa de doenças autoimunes (1.415 de um total de 2.809 pacientes) em 2019.

No Brasil, apesar de a terapia ser estudada há mais de 20 anos, foi somente em 2021 que passou a ser reconhecida como opção para o tratamento da esclerose múltipla e de outras doenças autoimunes (esclerose sistêmica e doença de Chron) pela Sociedade Brasileira de Transplantes de Medula Óssea e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Por aqui, estima-se que, nos últimos 20 anos, ao menos 250 procedimentos foram realizados.

Estabilização da doença

Os resultados dos diversos estudos realizados sobre o tema mostram não só a estabilização da função neurológica, mas também uma tendência de recuperação das funções perdidas em boa parcela de doentes que receberam o transplante autólogo de células-tronco.

Fonte: Saúde Abril