O silêncio das mulheres mutiladas

Cresce número de mulheres que ficam com a saúde abalada em função de procedimentos estéticos feitos por pessoas sem capacitação, alerta médica

Os procedimentos estéticos são uma conquista da vida moderna que nos permite o conforto de focar não apenas na saúde propriamente dita mas também naquilo que gostaríamos de mudar para aumentar a autoestima. Porém, como esse é um mercado bilionário, há muitos aventureiros colocando em risco a vida das pessoas, especialmente a das mulheres.

Vejo com preocupação o crescimento do número de pacientes chegando ao consultório com problemas gravíssimos de saúde em decorrência de procedimentos obscuros ou mal feitos. Elas nem sequer sabem o que foi injetado em seu corpo.

Existem milhares de mulheres no Brasil que foram mutiladas quando buscavam melhorar sua aparência para se sentirem mais bonitas e confiantes. Muitas acabam se expondo porque acreditam em informações falsas disseminadas na internet. Outras topam fazer o procedimento com não médicos ou com produtos ilegais em função do custo.

Em comum, todas são alvo fácil desse mercado. Entregaram seu corpo a quem não tinha a menor condição de cuidar delas. Por isso o meu alerta. A saúde dessas mulheres não tem preço. Não vale a pena se arriscar nesse tipo de situação.

Enquanto você lê este artigo, uma mulher está tendo silicone industrial injetado no seu corpo, correndo inúmeros riscos. Sim, é um caso de saúde pública!

Isso nos leva a outro ponto importante: o preconceito contra as pessoas que passaram por esses “procedimentos” duvidosos e perigosos. Quem deveria acolher essa mulher, preservá-la e tratá-la nega atendimento porque não quer se envolver no “caso”. Tem gente que simplesmente diz que é culpa da paciente.

O fato é que as redes de saúde pública e privada não estão preparadas para enfrentar o problema. Negar que ele existe não fará com que desapareça; pelo contrário, aumentará o isolamento e a dor de quem vive com ele. Já não podemos tapar o sol com a peneira.

Fonte: Saúde Abril