Aprender a conversar é uma forma de aprender a pensar

Em livro, estudioso mostra como as palavras moldam e mudam nossa visão sobre o mundo e sobre nós mesmos

“Não nasci para os esportes.” O argentino Mariano Sigman acreditou nisso por décadas até que resolveu deixar de lado o trauma da derrota de uma competição de atletismo na infância e passou a se dedicar ao ciclismo. Deu certo!

Com o devido condicionamento físico, passou a sentir uma imensa satisfação a cada recorde pessoal conquistado.

Como um estudioso da comunicação humana, Sigman passou a contemplar a influência das palavras naquilo em que acreditamos e em como nos comportamos.

O resultado de suas reflexões pode ser conferido no O Poder das Palavras: como transformar seu cérebro (e sua vida) conversando.

Na obra, Sigman defende que a conversa é a melhor ferramenta para que evitemos cair em fake news — não apenas as políticas, mas aquelas sobre nós mesmos.

Nós somos os nossos próprios companheiros de viagem. Não há uma só pessoa que não converse consigo mesma. E muitas das nossas conversas internas podem ser razões, que espontaneamente nos levam a um lugar de muita autocrítica e exigência.

A verdade é que temos uma visão muito pouco apreciativa das nossas experiências. É um hábito geral e que vale a pena mudar, porque passamos a vida toda conosco.

Ter boas conversas com pessoas próximas e abertas, compartilhando ideias, é um exercício para clarear nossas conversas internas.

Existem muitas evidências que mostram que as conversas têm um aspecto decisivo na nossa saúde. Aliás, a falta dessas interações nos leva a ter uma vida pior. É algo que literalmente pode nos adoecer.

O isolamento, a má comunicação e a falta de estímulos são fatores que podem desencadear quadros de ansiedade e depressão, por exemplo, além de comprometer habilidades cognitivas no longo prazo, como a memória.

As conversas, por outro lado, são a principal ferramenta de tratamento das psicoterapias. Pela fala, podemos orientar nossas emoções e expressá-las melhor, refletir sobre nossos comportamentos e deixar emergir questões do nosso inconsciente.

Por um lado, as redes sociais são ruins porque são tremendamente populares e permitem agressões verbais.

Se você se reúne para conversar sobre algo com 800 milhões de pessoas, é muito difícil chegar a um acordo sobre algo, ouvir os colegas, saber a hora de se posicionar ou fazer pausas.

Outra desvantagem é que suas estruturas são muito viciantes, elas não nos levam a um estado de investigação e aprendizagem, mas a um modo de ratificação dos nossos desejos. Esse tipo de troca não é saudável, mas não é impossível.

Tem gente que usa muito bem o Twitter [rebatizado de X], o Instagram ou o TikTok. Essas pessoas realmente estão nas redes com a intenção de descobrir coisas novas ou de compartilhar experiências e conhecimentos com quem esteja interessado. Podemos encontrar mundos novos lá.

Fonte: Saúde Abril