O que explica o aumento da obesidade entre jovens no Brasil?

Levantamento nacional aponta crescimento de 90% nos casos entre 2022 e 2023. Alimentação inadequada, sedentarismo e tempo de tela estão por trás do fenômeno

Considerada um problema de saúde pública, a obesidade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e diferentes tipos de câncer.

Agora, a doença crônica tem atingido cada vez mais o público jovem. De acordo com a última pesquisa Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), aumentou o número de indivíduos com obesidade com idades entre 18 e 24 anos.

O levantamento, que ouviu 9 mil pessoas de todas as regiões do país, apontou um crescimento de 90% nos casos em comparação com a mesma pesquisa, realizada em 2022.

O estudo Covitel utilizou como base o índice de massa corporal (IMC) dos participantes, estimado com base na divisão do peso de uma pessoa, em quilos, pela altura, em metros, elevada ao quadrado.

Quando o resultado é acima de 25, o quadro é definido como sobrepeso. Já os valores acima de 30 são classificados como obesidade.

Em 2022, 9% da população dessa faixa etária apresentava IMC igual ou superior a 30 kg/cm². Neste ano, o percentual atingiu a marca de 17,1%.

A pesquisa foi desenvolvida pela Vital Strategies, organização global de saúde pública, e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir da articulação e financiamento da Umane e apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

Combinação de fatores

Na grande maioria das vezes, a obesidade está relacionada à inatividade física, ao aumento do tempo de tela, e a uma alimentação inadequada, com muitos alimentos ultraprocessados, que têm maior densidade calórica [muitas calorias em porções pequenas] e poucos alimentos saudáveis”, diz Miranda.

A questão do prato é bem importante nessa faixa etária.“O maior desafio no controle da obesidade entre jovens é a melhora da qualidade alimentar.

Além de fazer com que eles tenham consciência de que praticar atividade física é um tratamento e uma forma de melhorar sua qualidade de vida”, afirma Leonardo Emilio, cirurgião-geral do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.

Alimentação

No levantamento, os participantes também foram questionados sobre hábitos alimentares e prática de atividades físicas.

A população de 18 a 24 anos está entre as que menos consomem frutas de maneira regular. Apenas 33,5% dos jovens incluem a categoria na dieta cinco vezes ou mais na semana.

Eles são ainda os que comem menos verduras e legumes — 39,2% ingerem esses alimentos na frequência recomendada.

Sedentarismo

No contexto da prática de atividade física, os jovens também não se encontram em situação favorável.

Na pesquisa Covitel, apenas 36,9% afirmaram praticar os 150 minutos semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por outro lado, eles são líderes em tempo de tela, com 76,1% utilizando dispositivos como celulares, tablets ou televisão três horas ou mais por dia para lazer.Ou seja, para além do tempo gasto trabalhando ou estudando online, por exemplo.

O sono, um marcador importante para o desenvolvimento da obesidade, também está comprometido, com cerca de metade dos jovens (54,2%) dormindo a quantidade de horas recomendadas para a idade (7 a 9 horas por dia, de acordo com a National Sleep Foundation).

Impactos para a saúde mental

Falta de vontade, preguiça, desleixo. Estas são apenas algumas das interpretações equivocadas que ainda são relacionadas pelo imaginário popular como causas da obesidade.

Embora seja bem estabelecido pela ciência que a doença ocorre por uma mistura de fatores genéticos e comportamentais, ainda é comum que seus portadores sejam vistos como pessoas que não cuidam do próprio corpo.

Fonte: Saúde Abril